Hoje o post é um pouco diferente. Chamamos um amigo de longa data para contar como foi o processo de começar a fazer cerveja caseira e evolução dele dentro do mundo da cervejeiro. O Daniel Guandalini é cervejeiro caseiro desde 2008, começou a fazer cerveja caseira com 28 anos é formado em biomedicina e hoje trabalha como empresário no ramo automotivo. E ele é um cervejeiro de mão cheia!!
Com a palavra o Daniel.
Como conheci cervejas “especiais”
Assim como a maioria, eu sempre consumia cervejas de massa e não tinha conhecimento de outros estilos até que um dia um amigo que morou fora do Brasil me disse que eu precisava conhecer a cerveja Erdinger, que era totalmente diferente das cervejas encontradas por aqui. Gastei “uma fortuna” para comprar essa bendita cerveja e realmente aquilo foi algo que mudou minha visão e me deixou ainda mais curioso. Na época não tínhamos acesso à muitos rótulos por aqui, mas cada vez eu estava mais interessado em conhecer sobre o assunto. Foi nesses estudos sobre estilos, escolas cervejeiras e ingredientes que começaram a surgir algumas informações sobre produção caseira.
A internet não era como hoje, não tinha smartphone ou grupos de troca de mensagens por celular, era tudo na base da ligação ou e-mail. Comecei estudar e percebi que seria possível fazer a minha cerveja em casa mesmo morando em um apartamento minúsculo. Li muito o livro How to Brew do escritor John Palmer e, apesar de já estar por dentro de toda técnica, resolvi fazer um curso presencial que aconteceria na cidade de Campinas onde eu residia na época. O curso me ajudou muito, consegui tirar várias dúvidas e foi aí que me senti seguro para iniciar minhas produções.
A primeira cerveja caseira a gente nunca esquece
Foi tudo muito adaptado, a famosa gambiarra. Comprei 2 panelas de 30 litros, um balde fermentador com airlock, moedor de discos, densímetro, proveta… eu mesmo fiz um fundo falso com uma forma de pizza (que logo foi substituído por uma bazooka) e muitos utensílios de casa mesmo. A cozinha do apartamento tinha uns 8m², meu fogão cooktop de 4 bocas e a pia do lado. A brassagem foi cheia de problemas e demorou umas 12 horas. A fermentação aconteceu em temperatura ambiente e depois tentei fazer uma maturação na geladeira de casa. Nem preciso dizer que minha esposa é incrível né? Coloquei a cerveja em garrafas de vidro com priming e depois foram dias de muita ansiedade até que ficasse realmente pronta.
Chegou o dia de provar, a receita era uma Pale Ale que, pra falar a verdade, eu não tinha muita noção de como ficaria. A impressão é que aquilo não viraria cerveja, mas não é que deu certo? Para minha surpresa a cerveja ficou bacana, claro que tinham alguns defeitos de fermentação mas na época eu nem tinha muito essa noção e foi o melhor troféu que eu poderia ter ganhado.Aos poucos fui conhecendo outros cervejeiros e começamos a criar um grupo em Campinas onde tínhamos muita troca de informações, receitas e trocas de cervejas, claro. Dizem que ninguém faz amigos bebendo leite e realmente foi uma época onde fiz amigos que serão pra vida toda.
Com isso meu processo foi amadurecendo e meu equipamento ganhando algumas melhorias.
A evolução do cervejeiro caseiro
Depois de alguns anos eu me mudei de Campinas para Dourados-MS e foi aí que consegui construir uma casa com um espaço exclusivo para produção de cerveja. Hoje minha cervejaria conta com um equipamento elétrico semi automatizado de 50 litros, fermentador cônico de inox, resfriador de placas, barril, chopeira… ou seja, hoje é muito mais fácil fazer cerveja, mas não me arrependo de nada, pois foi muito importante para o aprendizado e aperfeiçoamento.
Mantenho o registro de todas as minhas brassagens em um caderninho e mesmo usando aplicativo de celular ainda não abro mão das minhas anotações. Já são mais de 200 cervejas produzidas em casa e entre elas algumas cervejas fantásticas e outras nem tanto.
Ainda hoje tem alguma leva que fica bem longe do esperado mas com o tempo a gente aprende a corrigir e já sabe o que pode melhorar. Sempre produzi apenas para o consumo próprio o que me deixa livre para testar e experimentar novas possibilidades. É um hobby que faz parte da minha vida e espero que meus filhos reproduzam as receitas que o pai fez quando eles eram pequenos.
Boas cervejas a todos e saúde!!!