No ambiente cervejeiro onde o lúpulo é a cereja do bolo, existe uma variedade de malte que se sobressai aos demais. Você sabe de qual estamos falando? Acertou quem disse Maris Otter.
Maris Otter é a variedade de malte mais reverenciada, celebrada e famosa e possui muitas medalhas de ouro para carregar todos esses adjetivos. Cervejas feitas com Maris Otter ganharam ouro em 11 edições de 15 anos do concurso Campaign for Real Ale Champion Beer of Britain. Além disso, muitos cervejeiros apreciam este malte pela sua qualidade, facilidade de extração e notas de biscoito.
Mas como que um malte que está a 50 anos no mercado consegue se manter por tanto tempo querido por todos os cervejeiros? História, tradição e qualidade! Sabor a parte, o sucesso de Maris Otter vem em grande parte de ter uma boa história. É uma história que complementa a história da revolução da cerveja artesanal. Tanto o MO quanto a cerveja artesanal atingiram esse equilíbrio entre honrar a tradição e, ao mesmo tempo, reinventar a tradição.
Mas antes de falar sobre o Maris Otter, vou contar brevemente sobre como surgiu o malte pale ale.
História do Malte Pale Ale
Malte pale ale surgiu na Inglaterra por volta de 200 anos atrás, quando algumas maltarias começaram a utilizar coque, apesar de ter um custo mais caro, para aquecer as câmaras de secagem de malte do que carvão mineral e madeira. Esse novo malte mais claro e de custo mais elevado, elevou o preço das cervejas. E isso ajudou a criar a noção de que cervejas mais claras e caras eram destinadas à classes sociais mais altas.
Antes da utilização do coque no processo de secagem, todos os maltes tinham um certo tipo de defumado como característica e possuíam coloração escura. Com a utilização do coque, o malte se tornou menos defumado e sua cor mais clara. Produzindo cervejas de cor ambar a acobreada.
A partir de 1820, a grande revolução veio com a introdução de novos métodos de malteação que se utilizavam de correntes de ar quente ao invés de gases da queima do coque para secar os grãos maltados. A partir disso, surgiu o malte pale ale como o conhecemos hoje, de cor clara e dourada e sabor neutro.
Agora passando para o século XX, vamos ver como foi o surgimento da variedade mais desejada por quem desejada fazer uma cerveja inglesa verídica.
História do Maris Otter
Maris Lane é o berço e a razão do nome do MO. Durante a maior parte do século 20, o UK´s Plant Breeding Intitute (PBI) produziu colheitas bem sucedidas e usou o prefixo Maris para citar muitas de suas variedades. Se as outras variedades de cevada tivessem se destacado, poderíamos estar falando de Maris Puma, Maris Dingo e Maris Mink.
E meados de 1960, os pesquisadores do PBI trabalhavam no cruzamento genético de uma cevada de primavera com uma cevada de inverno. Cevadas de inverno são plantadas durante o outono, sobrevivem ao inverno e se desenvolvem na primavera, mas naquela época as colheitas de inverno eram mais produtivas do que as de primavera, porém davam uma cevada de pior qualidade e não serviam para ser malteadas.
Foi então em 1965 que os pesquisadores do PBI tiveram um grande avanço cruzando uma variedade de inverno chamada Pioneer com uma variedade de primavera chamada Proctor e deram o nome de Maris Otter e assim nasceu a primeira cevada de inverno a ter um bom desempenho na maltaria.
E dessa forma o malte Maris Otter dominou a cena de cevada do Reino Unido durante os anos 70, favorecida pelos agricultores por seu rendimento, pelos mestres malteiros por sua facilidade de maltagem, e pelos cervejeiros por sua consistência de fermentação e profundidade de sabor.
As variedades de cevada mais bem sucedidas geralmente têm seu auge por 5 anos e depois passam para a obscuridade à medida que novas variedades melhoradas as substituem. Maris Otter teve um reinado especialmente longo pelos 15 anos após o seu lançamento, mas no final dos anos 70, estava em declínio.
Anos sombrios
Com o advanço de técnicas de cruzamento genético, espécies de malte melhoradas estavam invadindo o mercado e em 1979 o MO estava fadado ao esquecimento. Produtores alegavam que sua palha era fraca, que tinha baixa resistência à pragas e enquanto os produtores queriam parar de plantar essa variedade, a indústria exigia que o Maris Otter continuasse a ser produzido. O MO não se tornou apenas o “benchmark da indústria para a qualidade da malte”, estava adquirindo um status de culto entre a fraternidade cervejeira.
Apesar de possuir muitos discípulos, Maris Otter afundou à beira da extinção durante os anos 80 por três razões. Primeiro, as variedades mais novas superaram o MO em qualidade agronômica e, de certa forma, na cervejaria. Em segundo lugar, a indústria cervejeira no Reino Unido não queria utilizar uma variedade de cevada que aumentava seus custos de produção.
A terceira razão é a mais intrigante: MO havia perdido sua proteção à propriedade intelectual. No Reino Unido, os direitos dos criadores de plantas protegem uma variedade por 25 anos. Durante esse tempo, os agricultores precisam comprar novas sementes a cada ano, ou pagar pelo privilégio de produzir suas próprias sementes de determinada variedade. Com esses direitos vencidos, as empresas de sementes deixaram de ter incentivo para fornecer sementes de Maris Otter.
Em 1989, ele foi retirado da lista recomendada do NIAB (Instituto Nacional de Botânica Agrícola). Isso poderia ter sido o fim declarado do nosso queridinho, mas graças à alguns agricultores e pequenos cervejeiros que continuaram a plantar e usar em suas cervejarias, ele não caiu no esquecimento. E algo inesperado aconteceu…
Renascimento do MO
Maris Otter foi notado por alguém que tinha os meios para revivê-lo: dois comerciantes de grãos. Em 1990, a H Banham Ltd que já estava no mercado há um século e a Robin Appel Ltd que estava apenas começando a negociar grãos com seriedade se uniram e decidiram em conjunto comprar os direitos do MO em 1992.
Desde então, eles têm sido seus defensores e guardiões mais proeminentes. E eles tiveram um trabalho duro pela frente – tiveram que convencer os agricultores, mestres malteiros e cervejeiros que uma variedade de 27 anos poderia ser superior às novas variedades superpoderosas. Seu argumento era simples: enquanto novas variedades são criadas com melhorias genéticas em mente, o MO foi criado com foco em atributos de fermentação e sabor. Isso ressoou com uma multidão de cervejarias artesanais.
Porém ainda existia um grande empecilho, não era possível vender sementes ruins aos agricultores e esperar que eles obtivessem ótimos resultados. Foi aí que então, o MO retornou para os campos de pesquisa para seleção de melhores sementes, resultando no malte que encontramos na atualidade.
Maris Otter x Pale Ale malte
Maris Otter é conhecido por proporcionar à cerveja sabores e aromas de biscoito e nuances de nozes, enquanto o malte pale ale básico tem os aromas e sabores bem leves. Dessa forma, se você for fazer uma cerveja com fortes características de malte, o perfil do Maris Otter é bem desejado.
Já o malte pale ale de 2 fileiras já é um malte com notas e aromas mais leves, ideal para ser utilizado em cervejas onde o lúpulo será o destaque da cerveja.
E você já utilizou o Maris Otter? Consegue notar as diferenças entre ele e um pale ale tradicional? Nos conte suas impressões no comentários.
Boas cervejas!
Comentários
Tarciso Trapp
Olá. Onde encontro o Maris Otter para comprar. Gostaria de experimentar.
Fernanda Puccinelli
Oi Tárcisio, é só ir em alguma de nossas lojas físicas! Ou clicar no link aí do post do Maris Otter que vai direto para nossa loja online. Boas cervejas!
Jairo Machado
Olá, sou cervejeiro caseiro a pouco mais de 2 anos e tenho feito boas Cervejas, segundo a opinião de outros cervejeiros da minha região. Só uso o pale Maris Otter como base apesar de ser bem mais caro que outros pale, mas considero que vale a pena porque com certeza ele é diferenciado e é o maior responsável pela boa qualidade das minhas Cervejas.